
O Anjo da História

prof. Delmonte
Canções comentadas:
Alexandre (Caetano Veloso) - Cd "Livro" - 1997
Caetano deve ter lido a trilogia “Aléxandros” do historiador italiano Valério Massimo Manfredi, best-seller nos anos 90. O quanto o compositor se impressionou com o objeto da canção equivale ao quanto a canção é mesmo impressionante. A letra contém praticamente todas as passagens importantes da biografia de Alexandre Magno: a doma do indomável cavalo Bucéfalo, as lições recebidas do sábio de Estagira (Aristóteles), sua relação homoerótica com Hefestião, o episódio do "nó górdio", as conquistas juvenis, a importância do pai Felipe e da mãe Olímpia, a impressionante extensão do Império de Alexandre, etc. E tudo isso foi dito no curto tempo que dura uma canção.
O arranjo da música também impressiona. Com proposital exagero e misturando instrumentos tão diversos quanto uma linha de tambores baianos bem marcados, um ataque de metais grandiosos e uma guitarra nervosa (talvez imitando os raios de Zeus Olímpico!), uma trompa que faz o contraponto em alguns momentos, tudo isso contribue para uma mistura e grandiosidade típicas do período Helenístico e do personagem evocado. Formalmente é perfeito, pois o período Helenístico - que caracterizou o domínio macedônico - foi mesmo marcado pela fusão de elementos gregos e orientais. Imaginem os escultores clássicos de Alexandre quando viram as pirâmides do Egito! Por isso a característica artística do período tende a ser o exagero e a mistura. Assim Caetano Veloso, vaidoso de seu signo de Leão, também prestou homenagem ao leonino Alexandre Magno que foi tão famoso em seu tempo que acabou, por tradição, determinando a idade de Cristo. Sabemos que Alexandre morreu com 33 anos, portanto ainda jovem. Ninguém sabia ao certo a idade de Cristo, mas sabemos que morreu jovem, por isso convencionou-se dizer também que Cristo morreu com 33 anos.
Alexandre (Caetano Veloso)
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Ele nasceu no mês do leão, sua mãe uma bacante
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E o rei seu pai, um conquistador tão valente
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Que o príncipe adolescente pensou que já nada restaria
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Pra, se ele chegasse a rei, conquistar por si só
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Mas muito cedo ele se revelou um menino extraordinário
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O corpo de bronze, os olhos cor de chuva e os cabelos cor de sol
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Alexandre, de Olímpia e Felipe o menino nasceu, mas ele aprendeu
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Que seu pai foi um raio que veio do céu
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Ele escolheu seu cavalo por parecer indomável
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E pôs-lhe o nome Bucéfalo ao dominá-lo
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Para júbilo, espanto e escândalo de seu próprio pai
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Que contratou para seu perceptor um sábio de Estagira
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Cuja a cabeça sustenta ainda hoje o Ocidente
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O nome Aristóteles - nome Aristóteles - se repetiria
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Desde esses tempos até nossos tempos e além
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Ele ensinou o jovem Alexandre a sentir filosofia
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Pra que mais que forte e valente chegasse ele a ser sábio também
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(refrão)
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Ainda criança ele surpreendeu importantes visitantes
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Vindos como embaixadores do Império da Pérsia
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Pois os recebeu na ausência de Felipe com gestos elegantes
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De que o rei, seu próprio pai, não seria capaz
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Em breve estaria ao lado de Felipe no campo de batalha
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E assinalaria seu nome na história entre os grandes generais
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(refrão)
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Com Hefestião, seu amado, seu bem na paz e na guerra
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Correu em honrra de Pátroclo- os dois corpos nus -
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Junto ao túmulo de Aquiles, o herói enamorado, o amor
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Na grande batalha de Queronéia, Alexandre destruía
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A esquadra Sagrada de Tebas, chamada Invencível
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Aos dezesseis anos, só dezesseis anos, assim já exibia
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Toda a amplidão da luz do seu gênio militar
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Olímpia incitava o menino do Sol a afirmar-se
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Se Felipe deixava a família da mãe de outro filho dos seus se insinuar
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(Refrão)
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Feito rei aos vinte anos, transformou a Macedônia
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Que era um reino periférico, dito bárbaro,
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Em esteio do helenismo e dos gregos, seu futuro, seu sol
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O grande Alexandre, o Grande, Alexandre
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Conquistou o Egito e a Pérsia
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Fundou cidades , cortou o nó górdio, foi grande;
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Se embriagou de poder, alto e fundo, fundando o nosso mundo,
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Foi generoso e malvado, magnânimo e cruel;
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Casou com uma persa, misturando raças, mudou-nos terra, céu e mar,
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Morreu muito moço, mas antes se impôs do Punjab a Gilbraltar...
Glossário
1. Bacante: prostituta. Olímpia, mãe de Alexandre foi também uma dançarina antes de ter se tornado esposa do rei Felipe da Macedônia.
11. Bucéfalo: Alexandre na adolescência foi domador de cavalos. Bucéfalo foi seu cavalo predileto, ele não participava de nenhuma batalha se não estivesse com seu cavalo. Quando Bucéfalo morreu Alexandre caiu em uma grande tristeza.
13. Aristóteles nasceu na cidade de Estagira, foi pra Atenas ser aluno de Platão e depois de Atenas conquistada seguiu para a Macedônia, contratado por Felipe para ser professor de Alexandre.
31. Hefestião foi namorado de Alexandre. O homossexualismo masculino era uma prática aceita na Grécia antiga. "Correr em honra de Patroclo, junto ao túmulo de Aquiles" é uma referência a um episódio da "Ilíada" de Homero.
38 e 39. Esses dois versos são muito interessantes. Olímpia estimulava Alexandre a se afirmar frente aos outros filhos de Felipe com outras mulheres, ou seja, incentivava seu filho a ser rei.
45. O Império de Alexandre foi mesmo o divulgador e guardião da cultura grega. A expansão do império levou a cultura grega a misturar-se com a cultura oriental dando origem ao período helenístico ou helenismo. Uma fusão de elementos gregos e orientais.
48. Cortou o nó górdio: